Penso nas mulheres e em sua condição feminina tão poderosa e ao mesmo tempo tão frágil. Penso nas injustiças cometidas, nos sofrimentos e nas imensas responsabilidades que repousam sobre seus incansáveis ombros. Penso nos filhos, na família, nas comunidades pelas quais elas velam sem descanso. Penso na falta de tempo que assola a vida de muitas mulheres, tempo que lhes falta para pensar, para cuidar da alma, para repousar a sombra de uma árvore.
Ocorre-me refletir sobre o tempo que muitos homens exigem de suas mulheres e concluo como é injusto restringir-lhes o tempo por razões fúteis. Logo o tempo que, pelo caráter infinito, deveria ser abundante e farto. Ao acordar, sufocada pela falta de tempo uma mulher deveria fugir em louca carreira, ou brandir sua espada com energia cega até que, o tempo finito, cansado dessas circunstâncias malignas, voltasse às suas nascentes, deixando impressas em outro lugar as rugas profundas tão características das mulheres com falta de tempo.
O sexo feminino também precisa de tempo. Do tempo e da sua abundância infinita. E quando digo sexo, me refiro ao sexo mesmo, essa coisa cheia de secreções que acabam envenenadas pela falta de tempo. As mulheres carentes do tempo, além de todas as outras desgraças, ainda estão sob o risco de nunca mais serem alcançadas por um bom homem e sucumbir no mar de secreções venenosas retidas por essa coisa que as pode destruir com enorme facilidade. A maldita falta de tempo…
Fonte: cartas a uma mulher carente
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