terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O CERIMONIAL E A RACIONALIZAÇÃO

Sempre que inicio um artigo defino meu conceito de Cerimonial. Para mim Cerimonial é a normatização de respeito recíproco de convívio do homem em sociedade.
A manifestação do respeito se apóia na comunicação. Através de inúmeros recursos posso dizer ao outro como sou, quem sou e com este recurso estou deliberando a minha expectativa de respeito. Também com uma gama enorme de recursos comunico ao outro o respeito que lhe dispenso. 
Um dos recursos que dispomos para delinear nosso espaço para comunicar nossa expectativa de respeito é promover dentro do contexto um evento. Esse evento certamente se revestirá de características que dirão nosso status, nosso traquejo social e nossa cultura. Os eventos deslocam pessoas, acomodam pessoas, alimentam pessoas, acolhem pessoas. Tudo isso implica em acertos. Não pode, não deve haver erro nesses propósitos. Tudo isso tem que funcionar perfeitamente. Uma falha de nossa parte nos desvaloriza. Aqueles a quem estamos querendo comunicar nosso espaço e são alvos de nossas pretensões de respeito se sentirão desrespeitados. Não lhe é dado aquilo que se esperam. Tornam-se frustrados. 
Essa necessidade dos nossos propósitos de oferecer ao outro as condições, serviços e participações que espera preocupou o homem nos mínimos detalhes a partir de um passado relativamente remoto. Encontramos exemplo disso na arrumação de uma mesa para refeição. A faca deve sempre ter o corte voltado para o prato. Perguntar-se-á por que? Respondemos. Nosso conviva, o comensal que estamos recebendo deve sentir que reconhecemos sua importância, não queremos que despenda esforço inútil. A faca que colocamos em seu lugar, a mesa, com o corte voltado para o prato para que não seja necessário o movimento de gira-la fique e fique em posição de ser usada. Seja isso na arrumação informal, semi-formal ou formal. Estejamos nos usando a arrumação estilo, francês, inglês ou americano, a faca sempre será colocada à mesa com o corte voltado para o prato. 
Imagine o leitor, uma situação diferente, ser convidado a vender seus livros na livraria de um congresso. Receber para tanto um complicado regulamento com quase uma vintena de itens. Itens divididos para serem atendidos em três ou quatro momentos distintos em lugar de lhe ser oferecido um formulário adequado para que preenchesse os requisitos em uma só vez. Acredito que o leitor se sentiria desprestigiado. O congresso em vez de marcar pontos positivos no respeito ao participante teve resultado contrário. 
Esse assunto lembra o inicio de minha carreira. A essa época sabia que estava atuante no campo pouco divulgado das relações públicas. Com leitura de dois ou três livros me enfronhei em seus meandros. Achei que para o momento era o suficiente. Nessa área eu era chamado a intervir em recepções de visitantes, posses, transmissões de cargos, homenagens, inaugurações, colações de grau, funerais, etc... Em todas essas situações havia alternativas de seqüência, alternativas de deslocação, alternativas de atos. Para a escolha certa entendi que me faltavam conhecimentos de racionalização. Durante alguns anos dei preferência a leituras, conferências e seminários que desenvolviam em torno desse tema. Conseguia assim realizar um trabalho onde a eficácia era uma comunicação de respeito ao participante e dava a Universidade de São Paulo, onde eu atuava, um nível compatível com seu status. 
A racionalização, além de intervir no cerimonial, como acabamos de descrever atua também na área das relações públicas. Ela é a motivação de através da aproximação proporcionada pelo cerimonial conhecer as expectativas dos públicos de um empreendimento, viabilizando proporcionar a esses a estabilidade emocional indispensável para o rendimento pleno do trabalho do indivíduo, seja como componente de um grupo ou um público. 
A racionalização está integralmente envolvida na atividade de convívio do homem. É instrumento do cerimonial, é motivação das relações públicas. 

Fonte: Nelson Speers 
Assessor e Consultor para assuntos de RR.PP e Cerimonial.

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